sábado, 17 de julho de 2010

O amor oculto

Onde se oculta o amor oculto? Nas franjas do mar? Na cortina dos cabelos? Faz bem à alma tocar o seu corpo ou simplesmente vê-lo. O amor oculto tem um sorriso que lembra sons de flauta e de guizos. Seus olhos escuros, dissimulados, são promessas de ternura, carícias e pecados. O amor oculto percorre caminhos, trilhas, ama a natureza e é livre, solto, felino como uma tigresa. Como se veste o amor oculto? Roupas escuras? Calça jeans? Blusa amarela? Se é oculto, como dizer o nome dele ou dela? Como me surge esse amor oculto? De que jeito? Tem uma dália tatuada sobre o peito? Escala falésias? Dança conduzida pelos vinhos? Devora com prazer, muito prazer, a sobremesa? O amor oculto sonha como poeta e quase foi princesa. Quero que o seu sorriso e seu olhar me afaguem com a doçura e a delicadeza dos bombons da Kopenhagen. O amor oculto se esconde em montanhas, se perde na neblina, mas seu sorriso permanece e ilumina. É ninfa de patins dobrando a primeira esquina. O amor oculto surge, sem pedir licença, nas minhas horas matinais. E permanece pela tarde, pela noite, e quer mais, sempre quer mais. O amor oculto é tranqüilo, discreto, não gosta de palavrão, exceto os gritados nas horas desvairadas da paixão. É embriaguez em loja de louças, absinto em xícaras azuis. O amor oculto emerge de crateras, quimeras, vestido de luz. O amor oculto faz questão de não ser, não estar, não vir à tona. De repente, monta e grita e esporeia e cavalga como uma amazona.
(Texto de Nei Leandro de Castro, ilustração de Pablo Picasso)

Nenhum comentário: