quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Amar/Armar

Força, amor, para que o medo
não seque nossa saliva
como seca o leite dos rebanhos.
Força, amada, para que seja apenas transitória
a maquilagem de clown que arrodeia
nossos narizes vermelhos pelo choro
em memória dos meus e dos teus mortos.
A alvaiade que clareia e falseia nossos risos
deve servir depois para inscrições
de todas as palavras que não ousamos
escrever nos muros escuros desta noite.
Antes, amor, cuidado: é necessário
despistar o faro da matilha
com o suor das axilas, do sexo,
dos nossos corpos emaranhados,
quarenta graus à sombra.
E não temas se um dia as tuas mãos
de repente forem postas para cima
espalmadas contra a parede, enquanto
cães de fila farejam a tua mente.
As granadas são guardadas na cabeça
de cada um de nós.
(Poema de Nei Leandro de Castro in CantoContraCanto, foto de Sandra Porteous)

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Circo da Madrugada, Paris

Uma pausa no riso e na alegria
para se sentar à mesa, ao meio-dia.
(Texto Nei Leandro de Castro, foto autor desconhecido)

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Ars poetica

Ah, definir a poesia
de uma maneira
tão simples e bela
que as pessoas
repitam a definição
como se fosse delas.
(Poema de Nei Leandro de Castro in Musa de Verão, foto de Sandra Porteous)

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Diário de Viagem

Os espelhos florentinos
fesceninos espreitavam
ela penetrada em mim
e eu penetrado nela.
Do portal atrás de nós
o outono derramava
uma claridade amarela.
Contra essa luz fixei
a suave nudez dela:
o sexo recém-lambido
e seus seios de donzela.
Nossos gemidos eram altos
como os sinos da Igreja
de Santa Maria Novella.
(Poema de Nei Leandro de Castro in Era uma vez eros, foto de Sandra Porteous)

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Amor a Roma

Mais duradouros que as pedras dos monumentos, na quase totalidade destruídos, durante séculos, são os versos, os discursos, os pensamentos, as leis, as narrativas históricas dos romanos. Os monumentos intelectuais, expressos em palavras, resistiram a todas as destruições e mudanças. Tudo consome a poeira do tempo, exceto as idéias que germinam nas sementes das palavras, reunidas nas espigas das frases, multiplicadas nas searas das obras fecundas. No barro, na pedra, no papiro, no bronze, no pergaminho, no papel, as palavras-sementes fazem germinar as idéias, que vão e voltam, mas não morrem, que aplacam sofrimentos, enlevam espíritos, arrebatam consciências, conformam a conduta, incendeiam multidões.
(Texto de Afonso Arinos de Melo Franco em Amor a Roma, foto de Sandra Porteous)