Força, amor, para que o medo
não seque nossa saliva
como seca o leite dos rebanhos.
Força, amada, para que seja apenas transitória
a maquilagem de clown que arrodeia
nossos narizes vermelhos pelo choro
em memória dos meus e dos teus mortos.
A alvaiade que clareia e falseia nossos risos
deve servir depois para inscrições
de todas as palavras que não ousamos
escrever nos muros escuros desta noite.
Antes, amor, cuidado: é necessário
despistar o faro da matilha
com o suor das axilas, do sexo,
dos nossos corpos emaranhados,
quarenta graus à sombra.
E não temas se um dia as tuas mãos
de repente forem postas para cima
espalmadas contra a parede, enquanto
cães de fila farejam a tua mente.
As granadas são guardadas na cabeça
de cada um de nós.
(Poema de Nei Leandro de Castro in CantoContraCanto, foto de Sandra Porteous)