domingo, 20 de junho de 2010

O amor

Na selva amazônica, a primeira mulher e o primeiro homem se olharam com curiosidade. Era estranho o que tinham entre as pernas.
- Te cortaram? - perguntou o homem.
- Não - disse ela. - Sempre fui assim.
Ele examinou-a de perto. Coçou a cabeça. Ali havia uma chaga aberta. Disse:
- Não comas mandioca, nem bananas, e nenhuma fruta que se abra ao amadurecer. Eu te curarei. Deita na rede, e descansa.
Ela obedeceu. Com paciência bebeu os mingaus de ervas e deixou que lhe aplicasse as pomadas e os ungüentos. Tinha de apertar os dentes para não rir, quando ele dizia:
- Não te preocupes.
Ela gostava da brincadeira, embora começasse a se cansar de viver em jejum, estendida em uma rede. A lembrança das frutas enchia sua boca de água.
Uma tarde, o homem chegou correndo através da floresta. Dava saltos de euforia e gritava:
- Encontrei! Encontrei!
Acabava de ver o macaco curando a macaca na copa de uma árvore.
- É assim - disse o homem, aproximando-se da mulher.
Quando acabou o longo abraço, um aroma espesso de flores e frutas invadiu o ar. Dos corpos, que jaziam juntos, se desprendiam vapores e fulgores jamais vistos, e era tanta a formosura que os sóis e os deuses morriam de vergonha.
(André Marcel D'Ans in La verdadera Biblia de los Cashinahua, ilustração autor desconhecido da tribo Cashinahua)

Um comentário:

FILIPE ELOY disse...

Que delica de texto! rsrsrs
É muito delicado e divertido!

Um achado! Bom trabalho em encontrá-lo! :))))