domingo, 13 de junho de 2010

O pastor e a flauta

A flauta entre os seus dedos era infância
relembrança de azul, verde rebanho
repousando nas águas o cansaço
que o pôr de sol deixava em suas lãs.
***
Era música andando na distância
perdida das colinas. Era banho
de orvalho no silêncio do céu aço
forjado pelo fogo das manhãs.
***
Era vestígio de mulher ausente
feita de lã e paz, sol e canção
(que jamais nos virá: só se pressente).
***
A flauta era saudade e já não era:
morto o pastor, a bôca e os dedos não
mais inventavam sóis de primavera.
(poema de Nei Leandro de Castro in O Pastor e a Flauta, 1961 - quadro de Renoir)

Nenhum comentário: