4. A alma das garrafas
Aberta a garrafa, o vinho
se liberta de corpo e alma:
memória das primeiras vindimas,
som de fauno iluminado por pirilampos,
premeditação da alegria de um deus
conduzido pelas colinas do mito.
Aberta a garrafa, o vinho
quer alguns minutos de silêncio e espera
como o homem e a mulher no rito
que precede o enlaçar dos corpos,
as conquistas da língua,
a viagem ao céu, véu palatino.
Aberta a garrafa, cumpre resgatar
a memória das sementes fecudadas
no cio da terra,
a invenção das uvas esmagadas,
a origem do mosto posto
em sossego. Em sossego, deite o vinho
na translucidez de um cristal puro
e beba. A alma das garrafas ilumina:
castiçal que se acende no escuro.
(in "Era uma vez Eros", Nei Leandro de Castro - Foto, Sandra Porteous)
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