domingo, 16 de novembro de 2008

Cinco momentos do vinho (4)

4. A alma das garrafas Aberta a garrafa, o vinho se liberta de corpo e alma: memória das primeiras vindimas, som de fauno iluminado por pirilampos, premeditação da alegria de um deus conduzido pelas colinas do mito. Aberta a garrafa, o vinho quer alguns minutos de silêncio e espera como o homem e a mulher no rito que precede o enlaçar dos corpos, as conquistas da língua, a viagem ao céu, véu palatino. Aberta a garrafa, cumpre resgatar a memória das sementes fecudadas no cio da terra, a invenção das uvas esmagadas, a origem do mosto posto em sossego. Em sossego, deite o vinho na translucidez de um cristal puro e beba. A alma das garrafas ilumina: castiçal que se acende no escuro.
(in "Era uma vez Eros", Nei Leandro de Castro - Foto, Sandra Porteous)

Nenhum comentário: