terça-feira, 18 de maio de 2010

Solo desafinado para Nei Leandro

Quero o poema tão claro
nas coisas que pretendo dizer,
que na viagem da noite
pelos caminhos da madrugada,
ao falar na manhã que vai chegar
todos vejam o dia acabando de nascer.
***
E quando o poema fala de amizade,
saibam de que amigo quero falar.
Amizade que existe e para existir
tem trutas atravessadas na garganta,
contradições, mágoas, desencantos,
e não se cansa, sempre recomeça.
***
Verão de um calendário só dezembros
andando nos caminhos da madrugada,
manhã acabando de nascer
no grito amarelo dos cajus,
se reencontra no primeiro abraço
do ontem de hoje e depois de amanhã.
***
Não descompassou o coração nas alturas
quando viajou mundo pela mão do amigo.
Solo de pandeiro, cuíca e violão,
amizade que distribui o pão
e a mostarda da alegria,
bebe tristeza se o vinho faltar.
***
Amizade de lágrimas repartidas
num velho filme de Frank Capra,
antenas ligadas no cio da noite,
no bar Acácia descobriu a poesia
no fogo brando do primeiro conhaque,
no ouro amargo de uma cerveja Brahma.
***
Parentesco maior que o do sangue,
a amizade existe, sempre existirá.
Como quero o poema tão claro
nas coisas que pretendo dizer,
ao falar de amizade todos pensem
no amigo Nei Leandro de Castro.
(Poema de Luís Carlos Guimarães, publicado na Tribuna do Norte em 24/08/1986)

2 comentários:

Mistérios, Magias ou Milagres. disse...

Fantásticos seus poemas. Você não é só poeta é também filosofo e isso é maravilhoso. Parabéns Amei cada frase. Abraços Heudes

Juliana Porteous disse...

Adorei a foto e o poema é lindo! Que emocionante demostração de amizade.Salve o grande e eterno amigo e poeta Lula!