sexta-feira, 29 de julho de 2011

Os procedimentos

Não tenho muito para te dar,
a não ser os procedimentos da ternura
embalados pelo tempo,
envelhecidos com a dignidade dos vinhos.
Pertence igualmente a ti, amada,
esse ritual espelhado nos teus olhos,
repetido em teus menores gestos,
burilado pelas tuas mãos de fêmea.
Não, não vou te perder por meus desvarios,
por minha mínima e máxima culpa.
É preferível me perder e me achar
no teu provável fingimento jamais flagrado,
porque és fundamentalmente mulher.
Bem sabes: quando tua inteligência não alcança,
quando não é suficiente a tua sensibilidade,
te socorre uma intuição milenar,
caixa onde estão guardados todos os segredos
que me reconduzem a teus pés, a teus braços,
à gruta secreta sagrada do teu sexo.
Jamais abrirei essa caixa antiga como uma lenda grega,
não importa saber desses segredos,
desde que a tua intuição continue nos conduzindo
à febre, depois à lassidão, depois à harmonia
do encontro amoroso.
Aprendemos juntos, numa noite de abril ou em meio século,
que o fundamental para construir o amor
está em nossas falas, em nossos olhos,
no aprendizdo da linguagem dos nossos corpos.
Dessa elaboração, súbita ou tecida anos a fio,
surgem, irrompem, permanecem
os meus e os teus procedimentos de ternura.
(Poema de Nei Leandro de Castro in Diário Íntimo da Palavra)

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