sexta-feira, 6 de maio de 2011

Lorquiana para a Feira de São Cristóvão

O sol de domingo explode
sobre um chão de alpercatas,
nas cabeças nordestinas,
no sal da carne-de-sol.
O pregão em voz cantada
vende também a saudade:
dor de espinho aprofundado
no peito de cada um.
O sarapatel servido
tem um cheiro de Alecrim
e no seu molho sangrento
bóiam vísceras cortadas,
um sabor tão sertanejo
que se mistura à farinha
e se mistura à cachaça
bebida de talagada.
O couro curtido espalha
mais um odor pela feira.
Este espaço não é Rio.
A legião de mascates
vinda do chão do Nordeste
conquistou o território
e nele cravou bandeiras
com brasões de jerimum.
São Cristóvão aos domingos
veste roupa de vaqueiro
toca viola, rabeca,
desafia em versos simples
quem gosta de pelejar.
Tem a peleja do Cão,
da moça que virou cabra
e dos heróis domingueiros
que procuram desafio,
só pra derrubar o medo
de não voltar à terrinha.

(Poema de Nei Leandro de Castro, ilustração autor desconhecido Galeria da Feira de São Cristóvão)

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