domingo, 4 de janeiro de 2009

Chamada dos Ausentes

Este poema, escrito por Nei Leandro de Castro, foi declamado numa cerimônia realizada em Natal no dia Internacional de Solidariedade para com o Povo Palestino em 29 de novembro de 1982. Lamentavelmente, ele continua atual.
Chamada dos ausentes
(...)
Os mortos, os desaparecidos, os ausentes
- voluntários de um rito pela liberdade -
estão em cada um de nós.
Onde está o primeiro guerrilheiro adolescente
que investiu contra os tanques do invasor?
- Presente.
Onde está o poeta Mahmud Darwich
aquele que disse: "Meu sangue é um fio de azeite
que alimenta a lâmpada da liberdade?"
- Presente.
Onde está o patriarca que já perdeu todos os filhos
na frente de combate e tem nos olhos
mais ardor de luta do que luto?
- Presente.
Onde estão os versos de Samir Al Quassim,
aquele que leva um sol na mão direita
e repete nas encruzilhadas da noite
o canto do ardor?
- Presente.
Onde está a menina palestina
que descobriu o primeiro amor de sua vida
minutos antes de ser metralhada no pátio da escola?
- Presente.
Onde está a poesia guerrilheira de Fadwa Tuqan,
mais temida pelo inimigo do que dez atentados?
- Presente.
Onde está a mãe que já não embala o recém-nascido
porque perdeu os braços na explosão?
- Presente.
Onde estão tuas palavras, Muhamad Al Quissi,
gritadas ao vento quando a noite é uma horda de lobos dementes?
- Presente.
Onde está a solidariedade da poesia,
elo de lã de aço entre os homens?
- Presente.
Onde está a Palestina massacrada?
- Presente.
Onde está a Palestina libertada?
- Presente.
Onde está a Palestina?
- Presente.

2 comentários:

Celso Japiassu disse...

Um belo poema de um grande poeta. Infelizmente, escrito há mais de vinte anos, faz um trágico retrato dos dias de hoje.

Moacy Cirne disse...

Sandra: a sua foto do Potengi está no Balaio, Com os dois gragmentos do poema do Nei. Um beijo.