sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Lisboa dos meus amores (Nei Leandro de Castro)

Lisboa é íntima como uma praça, como diria um espanhol cheio de intimidades com a poesia. Lisboa me parece familiar como uma paisagem de Natal ou do Rio de Janeiro. Quando chego por lá, tenho a impressão de que todos os dias marco ponto nas Portas de Santo Antão, onde se saboreia boas doses de ginjas com elas ou sem elas. A rua é cheia de bares e restaurantes. Entrei no restaurante que fica no nº 8 das Portas de Santo Antão, e fui recebido com um ótimo serviço, vinho e cozinha da melhor qualidade. Antes de terminar o almoço, perguntei ao garçom muito simpático como era o nome do restaurante. Ele sorriu, meio encabulado, e disse: Inhaca. Não pude acreditar. O garçom, sempre com um sorriso encabulado, disse que sabia o que significava inhaca no Brasil e que alguns brasileiros não entravam no restaurante por causa do nome. Disse ainda que inhaca, terra natal do dono do restaurante, era uma ilha situada perto de Moçambique. Na despedida, eu disse que iria recomendar Inhaca aos amigos do Brasil de viagem a Lisboa. Você promete que vai lá, Manoel Onofre?
Os vinhos portugueses estão cada vez melhores e a preço bem razoável. O Cartuxa, por exemplo, custa 14 euros. O Quinta da Bacalhoa, que custa uma fortuna por aqui, pode ser comprado a 17 euros por lá. Mas, aqui pra nós, os nomes de alguns vinhos soam muito estranho aos nossos ouvidos. Exemplos: Cabeça de Burro, Quinta da Chinchorra, Casa de Carvalha, Quinta dos Patudos, Rosapena dos Batistas, Quinta do Porrais, Herdade de Espirra, Tapadas do Nascimento, Egoísta (o vinho servido nos vôos da TAP), Muxagat, Monte dos Cabaços. E aí, Alex, quando é que a gente vai tomar umas taças do Quinta do Porrais. Em Sintra, ao desembarcar na estação de trem, uma surpresa agradável: um encontro com José Arno Galvão e Marilia. Pegamos o ônibus que leva à região dos castelos, batemos um papo muito agradável, e eis que o ônibus chega ao seu final. Zé Arno, cheio de gás, me diz que vai escalar o Castelo dos Mouros e depois tomar de assalto o Castelo da Pena, esse com cerca de 500 degraus. Desejo boa sorte ao casal e desisto da empreitada, mesmo porque já conhecia o esplendor do Castelo da Pena. Soube depois que Zé Arno escalou apenas o Castelo dos Mouros. Em compensação, na volta a Lisboa , fez uma homenagem bonita: descobriu na rua Eça de Queirós o Cacho Dourado e fez com Marília um brinde ao poeta Luis Carlos Guimarães, frequentador daquele restaurante. Gestos como esse são pra gente guardar. Os barcos que fazem a travessia Lisboa-Cacilhas perderam todo o romantismo. No final dos anos 60, eram barcos pequenos, abertos a todos os ventos, e permitiam que rosas fossem jogadas no Tejo, em homenagem à namorada, à mulher amada. Quis repetir o gesto ao lado da mulher casada com quem namoro e não me foi possível nenhum gesto romântico. Os barcos de hoje são enormes, velozes. E fechdos como a cara do comandante e seus auxiliares.

Conheci o poeta Ernesto Manuel de Melo e Castro em 1968, na Quadrante, a melhor livraria de Lisboa daquela época. Quarenta anos depois, fizemos um brinde à poesia, à nossa amizade, numa linda noite de outono de minha querida Lisboa.

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