quinta-feira, 12 de abril de 2012

Danilo Bessa, o Leo

Na primeira metade dos anos 1970, Danilo Bessa foi morar no Rio de Janeiro. Deixara São Paulo, onde tinha vivido na semiclandestinidade desde que fugira de Natal, em 1º de abril de 1964. No Rio, a repressão se tornara uma das mais violentas do país, a partir do sequestro do embaixador Charles Elbrick, em setembro de 1969. Os militares, principalmente os sanguinários da linha-dura, não podiam admitir que um grupinho tivesse a audácia de capturar o embaixador norte-americano para soltá-lo, quatro dias depois, em troca de 15 presos políticos. As prisões, as torturas e as mortes de ativistas políticos assumiram proporções assombrosas.
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Foi por esse tempo que Danilo Bessa, condinome Leo, membro do Partido Comunista, passou a morar no Rio de Janeiro. Com problemas de dinheiro, sem condições de conseguir um exílio político, observando que alguns camaradas do PCB estavam optando por posições mais radicais, ele recebeu um convite para ingressar num grupo da luta armada. Aceitou, mas pediu um pequeno prazo para acertar detalhes e trocar idéias com outros camaradas. Nesse mesmo dia, Danilo, o Leo, conversou com Luís Ignácio Maranhão Filho, nosso professor de Geografia no Atheneu, alto dirigente do Partido.
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Luis Maranhão ouviu as razões de Danilo com a paciência de um bom mestre e não fez perguntas. Depois, se levantou da cadeira onde estava, fixou os olhos no ex-aluno e camarada, por trás das lentes muito grossas dos óculos, e disse: "Eu conheço você desde menino, rapaz! Você não tem jeito pra matar um sibite, uma rolinha, um rola-bosta! Você já se viu matando um segurança de banco? Você já se imaginou atirando à queima-roupa num homem, mesmo que esse homem seja um soldado ou um bandido? Vai te aquietar, rapaz! Nas atuais circunstâncias, a luta armada é uma loucura. Não seja louco!" Danilo Bessa me contou algumas vezes essa história e sempre concluía que o prof. Luís Maranhão o havia livrado da morte. Quer dizer, entre tantos méritos, tantos atos de coragem e solidariedade, acrescente-se a Luís Maranhão mais esse gesto de grandeza: a de permitir que Danilo vivesse mais trinta e tantos anos entre nós. 


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