sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Poema do negro africano

Talvez fosse dia e gaivotas cegas
de azul pousassem na manhã,
mas a noite dormia no leito
onde chorei o meu primeiro canto.
Cantei por senzalas indormidas
- com voz igual a que nunca ouvi -
uma canção longínqua de procura
e os meus braços se alongaram para o eito.
Mas pelo mundo fiz-me herói involuntário:
todo o meu pranto milenar de angústia
desce invisível e se transforma em canto.
Uma estranha senhora cor da noite
teceu em meu peito uma harpa
da cor da lua incendiando o Nilo.
(Poema de Nei Leandro de Castro in O Pastor e a Flauta, foto de Mário Meir)

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